É difícil viver em um país que não dá, quase, nenhum apoio à Literatura. Alguns ainda pensam que existe uma boa e uma má obra de arte. Na verdade, existe aquela que mais te instiga, e existe outra que não condiz com o seu perfil de leitor. O twitter, ultimamente, tem entrado forte no mundo literário, trazendo diversas novidades e diversos bons tópicos a se discutir. Vocês devem estar se perguntando o motivo pelo qual estou mostrando tudo isso... A verdade é que estou fascinado pela forma como os leitores estão mostrando as caras no Brasil.
Há alguns meses, talvez um ano, um(a) “desconhecido(a)” decidiu criar uma obra de arte, voltada à fantasia, e quis mostrar ao público como é a criação de um livro de ficção. Como num seriado, o(a) autor(a) (que usa o pseudônimo de DarkWriter) posta, na Internet, os capítulos da obra separadamente. Os leitores, então afinadíssimos, buscam e fazem o download do arquivo.
A febre está crescendo cada vez mais, e os internéticos fãs estão dando total apoio à construção. Essa é uma das verdades que nós temos que encarar na contemporaneidade. Como professor de Literatura, posso afirmar, ao ouvir todos os estudantes, que essa é a forma que eles querem ser conquistados. O(a) DarkWriter tenta chamar a atenção dos seus fiéis leitores com uma forma diferente de contar as suas histórias. Tudo acontece em Londres, o que pode causar questionamentos como: “então a obra é estrangeira?” – Não... A obra é nossa, é brasileira. Para um livro ser considerado estrangeiro tem que ter sido escrito, originalmente, em outra língua que não a nativa (o que não é o caso).
A fantasia, todas as vezes, foi um combustível muito favorável às críticas sociais. Quem nunca leu “O Senhor dos Anéis” e encontrou uma ótima crítica ao egoísmo, à ganância vivida na Segunda Guerra Mundial? – ou então, quem nunca leu “As Brumas de Avalon” e percebeu que há uma crítica severa ao preconceito e ao ódio? Todas as obras de fantasia (posso citar várias) trazem esse “quê” de realidade.
O(a) DarkWriter não faz diferente. Através das falas da personagem principal (Mary Prince), nossos jovens (e adultos também – extraordinário isso) começam a repensar as suas atitudes, as suas fraquezas e, enfim, a forma como tratam a morte. É importante que saibamos separar as ideologias. Não esperemos, dos novos escritores, críticas tais como as feitas por Machado de Assis, Oscar Wilde, e outros, pois a linguagem é outra, o momento é outro... Os erros são os mesmos, porém os pontos de vista são diferentes.
Devemos dar valor à nova Literatura. Não a tratemos como lixo. Na sala de aula, ensino aos meus estudantes que o primeiro valor de uma obra de arte é fazer com que você se sinta bem a ponto de se expressar através das idéias que ela te passa. Não adianta ler o que não lhe convém se, mais tarde, você subverterá os valores obtidos no mau entendimento da tal. Questione-se, abstraia as pressões alheias... Leia o que lhe faz se sentir mais social. Trate bem a Literatura e espere que ela faça o mesmo com você.
Se você não consegue ler Machado de Assis ou Shakespeare, mude um pouco os ares. Comece lendo, por que não o(a) DarkWriter, “A Lenda dos Guardiões”, depois, quem sabe, já acostumado com a linguagem literária, você se sinta apto a ir mais fundo nas críticas sociais e pessoais.